Os tempos que correm vão ser extraordinariamente difíceis para a luta dos professores.
Emendando a mão, de forma inteligente e bem fundamentada, o ME vai procurando cavar a divisão entre os professores, ora oferecendo mais um índice remuneratório aos mais velhos, ora acabando com os títulos que dividiam simbolicamente a carreira, ora ainda deixando no ar a ideia de que não será necessário ser excepcional para chegar ao topo (sem deixar claro o prazo para esse final e sem acabar de forma clara com as quotas). Ao mesmo tempo que não apresenta uma proposta de solução para a precariedade de milhares de contratados (que hoje em dia ultrapassam já os 30% da força de trabalho docente, e em muitas escolas chegam a números próximos dos 60% dos professores colocados).
Nestas circunstâncias o caminho que poderá levar ao reforço das posições dos sindicatos de professores (e o SPGL deveria ter aqui um papel central) é um esforço de aproximação às escolas e aos professores. Mas não é por aí que António Avelãs e a sua equipa nos querem levar.
Se é certo que os sindicatos de professores detém a representação legal da classe e são as organizações que detém a legitimidade para falar com o governo em nome dos professores, não é menos verdade que a delegação que lhes foi outorgada pelos professores necessita de uma renovação de legitimidade que se expressa nos actos eleitorais, mas também nas votações de outras decisões e na adesão às propostas apresentadas pelas direcções sindicais.
Não pretendemos ignorar que o SPGL é um dos sindicatos de professores com maior número de associados. Como também não ignoramos que a sua área de implantação abrange o maior número de escolas e professores do país.
Mas também por isso deveria ser preocupação da direcção do SPGL aumentar a participação dos professores na vida sindical, fosse através de mais sindicalizações, fosse através de uma maior participação dos sócios na vida e nas decisões do SPGL.
Chegados aqui só nos resta lamentar o acto falhado que foi a Assembleia Geral Extraordinária do dia 10 de Dezembro, em que os sócios foram chamados a pronunciar-se sobre a revisão estatutária do SPGL e sobre a permanência ou saída da Confederação de Quadros.
De facto, numa altura em que os professores (e também os sócios do SPGL) estavam preocupados com as decisões relativas à ADD e à revisão do ECD, a direcção do SPGL quis que eles discutissem minudências do âmbito organizacional (que são relevantes para o sindicato e para quem o dirige, mas não interessam minimamente a quem está preocupado com a vinculação, ou com a avaliação e a mudança de escalão).
A resposta a esta falta de visão foi clara e é de análise obrigatória, por parte de todos os que se envolveram no acto referendário.
Por parte dos sócios que combateram as proposta da direcção, mas sobretudo por parte dos dirigentes que cada vez se isolam mais das bases, construindo um mundo de fantasia em que é possível escrever coisas como esta ou esta e, ainda assim, acreditar que os professores são tão distraídos ou politicamente ineptos que possam aceitar tais argumentos.
Os números valem o que valem, mas também servem para legitimar politicamente as decisões de quem dirige as organizações.
Se em Maio deste ano a direcção foi eleita com 3806 votos dos 17621 sócios que tinham direito a participar no acto, isso era já um sintoma do afastamento cada vez maior entre quem dirige e quem delega o poder de dirigir o sindicato.
Ainda assim a participação no acto eleitoral atingiu cerca de 36,6% dos eleitores inscritos, o que não sendo famoso, tem apenas o dramatismo comparável ao desinteresse pela coisa política que assola os portugueses.
Mas agora os números são esmagadores. E o uso do termo esmagador é de toda a actualidade, se nos lembrarmos da forma como a direcção qualificou a sua vitória nas eleições de Maio.
Desta vez 91,8% dos sócios do SPGL rejeitaram esmagadoramente a agenda que lhes foi imposta pela direcção.
E pasme-se.
Apesar disso a direcção acha-se mandatada pelos sócios para tomar uma decisão como é a de abandonar uma confederação de que o SPGL é sócio fundador.
Usando o artifício legal de nada nos estatutos o impedir, a direcção considera que tem legitimidade para abandonar uma organização de que devia ser um dos motores, pela simples razão de que o SPGL é o sindicato português com maior número de quadros e com os quadros com maiores e melhores qualificações académicas do país.
É certo que a proposta para sair foi a mais votada: 768 votos contra 757. Convém no entanto não esquecer que o universo de votantes era de 17519 sócios. Além de que os 768 votos nem sequer atingem os 50% de votos expressos, ficando-se por uns inexpressivos 47,41% de 9,2% dos sócios com capacidade de voto.
Se é verdade que os actos qualificam quem os pratica, a direcção do SPGL, ao decidir como decidiu, mostra inequivocamente aos sócios o que pensa deles - servem para pagar as quotas e, de vez em quando, são um incómodo porque acham que têm que ser ouvidos antes de serem tomadas as decisões.
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