sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O modelo errado de avaliação vai ser mais um factor de perturbação nas escolas

Procedimentos propostos pelo M.E. confirmam que avaliação será novo constrangimento na vida das escolas
O projecto de Despacho sobre avaliação de desempenho, apresentado pelo Ministério da Educação, bem como os seis anexos que o acompanham e que contêm regras sobre prazos, sobre procedimentos de auto-avaliação e ainda as fichas de avaliação global confirmam o que a FENPROF sempre referiu: o desenvolvimento do processo de avaliação constituirá um sério e preocupante entrave à vida normal das escolas, interferindo directa e negativamente na qualidade do desempenho dos docentes e criando novos focos de conflito entre os professores.

Quando era suposto que a avaliação de desempenho contribuísse para melhorar o desempenho dos professores, os procedimentos a que estes estarão obrigados e todos os trâmites que as escolas terão de cumprir irão ocupar muito do pouco tempo que os professores têm para realizarem outras tarefas, nomeadamente no âmbito do que é essencial na sua vida profissional: a actividade com os seus alunos.

Na reunião, a FENPROF propôs um conjunto de alterações que, sem alterarem o modelo no que é fundamental – essa é matéria que se encontra estabelecida no ECD e na regulamentação da avaliação, não sendo o que está, neste momento, em negociação –, poderá, contudo, contribuir para atenuar alguns dos efeitos mais negativos deste modelo de avaliação na vida profissional dos docentes.

Da reunião resulta, como positivo, a clarificação sobre a não penalização dos docentes quando as suas ausências ao serviço decorrerem de situações legalmente previstas no próprio ECD. Todavia, outros aspectos, como a complexidade do relatório de auto-avaliação, nomeadamente no que respeita à apresentação das designadas “evidências”, bem como muita da discricionariedade que pode influenciar a avaliação dos professores, tendo em conta o carácter subjectivo das próprias fichas e do seu preenchimento, são aspectos que não são menores e poderão mesmo ser muito negativos.

A FENPROF contestou ainda a forma como os docentes serão avaliados durante o designado período probatório que constitui um verdadeiro segundo estágio. O carácter de indução, que a FENPROF propôs, não está presente, assumindo este período probatório, não o carácter de tempo de apoio e integração, mas sobretudo de instrumento de selecção.

Para a FENPROF, o modelo de avaliação que vigorará no próximo ano não se afasta, como deveria, do anterior e será um grave factor de perturbação com que as escolas se confrontarão já a partir do dia 1 de Setembro. A FENPROF acompanhará no terreno todo o processo de implementação do modelo, bem como o seu desenvolvimento ao longo do ano para que, no final, tal como se prevê na lei, haja condições para alterar profundamente este errado modelo.

O Secretariado Nacional da FENPROF
27/08/2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Contributos do ME e do Governo para a desertificação do País

Prepotência, demagogia e desrespeito
marcam processo de encerramento de escolas do 1º Ciclo
A forma como foi divulgada a lista de 701 escolas que, em princípio, já não abrirão em Setembro corresponde ao culminar de um processo marcado por uma atitude prepotente em que o desrespeito e a demagogia do ME e do Governo estiveram sempre presentes.

Fica claro, pela reacção de surpresa de diversos autarcas, que muitos municípios não deram o seu aval ao encerramento imposto e que, em inúmeros casos, as verbas que o governo transferirá fica muito aquém do necessário. Exemplo disso, é o que já se conhece em Lamego, cuja câmara municipal terá de arcar com cerca de 80% da despesa acrescida com transportes.

Segundo o ME, as escolas a encerrar têm menos de 21 alunos, mas sabe-se que tal não corresponde à verdade. Só na região centro, mais de duas dezenas de estabelecimentos têm mais do que esse número de alunos.

Para que este processo fosse transparente – e não é! – a lista de escolas a encerrar deveria ter sido divulgada com diversos elementos que continuam a ser desconhecidos. Deveria, para além do nome da escola, ser referido o número de alunos, a taxa de insucesso verificada e a escola de acolhimento dos alunos. Isto, partindo-se do princípio de que, em todos os casos, havia acordo do respectivo município e dos pais, o que já se sabe não acontecer. Foram estes os dados que, há mais de dois meses, a FENPROF solicitou ao ME, mas, até hoje, não obteve resposta. Assim, em pleno mês de Agosto e a menos de 15 dias do início de um novo ano escolar, as direcções regionais de educação limitaram-se a informar quais as escolas que irão encerrar e nada mais, o que é manifestamente insuficiente.

Principais penalizadas com esta imposição, serão as mais de dez mil crianças que passarão, em Setembro a ter de frequentar outra escola, principalmente se não estiverem asseguradas deslocações de curta duração nas condições de segurança e conforto legalmente estabelecidas e se não houver uma resposta social adequada e de qualidade que assegure refeições gratuitas e ocupação dos tempos que medeiam entre o final das aulas e o regresso a casa.

Todo o discurso do ME em torno da qualificação do sistema e da promoção do sucesso, não passa de pura demagogia.

Esta é uma medida que se enquadra na política economicista de um governo que decidiu encerrar serviços públicos, independentemente dos seus custos sociais e das consequências para o futuro de um país que, cada vez mais, assiste à desertificação de vastas zonas do território, como consequência desta política.

A FENPROF rejeita e reprova este encerramento de escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, cego e em massa, e estará atenta às condições de transporte e de acolhimento dos alunos deslocados. Por entender que decisões deste tipo exigem sempre um amplo consenso dentro da comunidade educativa, estará ao lado de quantos, por não terem sido ouvidos ou ter sido desrespeitada a sua posição, decidirem protestar e lutar contra o encerramento das escolas imposto pelo Governo.

O Secretariado Nacional da FENPROF
19/08/2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ministério da Educação continua (em período de férias...) a promover o desemprego docente e a degradação da Escola Pública

FENPROF rejeita medidas que degradam a qualidade da educação
Em final de ano lectivo e estendendo-se agora para o período de férias da generalidade dos professores, o ME tem vindo a impor medidas de organização e funcionamento do ano escolar 2010/2011 que, para além de interferirem no trabalho já desenvolvido pelas escolas, terão consequências muito negativas na sua capacidade de organização pedagógica, no seu funcionamento e nas condições em que nelas se ensina e aprende. Consequências que se estendem aos docentes, provocando um significativo aumento do número de desempregados… mas, tudo indica, esse é o principal objectivo a atingir pelo ME/Governo.

Os efeitos dessas medidas compreender-se-ão melhor logo que for divulgada a lista de colocações para contratação para o próximo ano escolar, o que deverá acontecer até 31 de Agosto. Listas de um concurso que, inexplicavelmente, só ontem ao final da tarde viu iniciar-se a fase de “manifestação de preferências” pelos candidatos, o que traduz desrespeito por dezenas de milhar de professores que deveriam estar de férias sem mais esta preocupação que acresce à que decorre da incerteza da sua colocação.

A este atraso não será alheio o facto de, neste momento do ano, terem sido criados os mega-agrupamentos que obrigaram à extinção, não só de outros, como de escolas não agrupadas, cujos códigos tiveram de ser substituídos e só agora se conheceram.

Fazem parte deste conjunto de medidas destinado a reduzir a despesa na Educação e imposto já a pensar no Orçamento de Estado para 2011 – daí a necessidade de serem tomadas agora, caso contrário apenas incidiriam nos últimos quatro meses do ano – as seguintes:

- Encerramento de 701 escolas do 1.º Ciclo, já em Setembro;

- Criação de 86 mega-agrupamentos que resultam da extinção de cerca de duas centenas de agrupamentos e escolas não agrupadas;

- Eliminação do crédito global de horas das escolas que integraram mega-agrupamentos e atribuição de um único crédito às novas “unidades orgânicas”, independentemente do número de “unidades” extintas que absorveu;

- Alteração da relação professor-bibliotecário / número de alunos, no sentido de reduzir o número de docentes nesta função;

- Alteração das regras referentes à organização dos Cursos de Educação e Formação, quer quanto ao número de alunos por turma, quer quanto às condições de trabalho dos docentes;

- Impedimento, por despacho, de os docentes relatores (que têm tarefas de avaliação de outros docentes), usufruírem das reduções lectivas previstas no Decreto Regulamentar 2/2010, remetendo-as para a componente não lectiva de estabelecimento.

Para além destas medidas que resultam de quadros legais recentemente conhecidos ou, no que respeita aos aspectos relacionados com a rede escolar, de uma Resolução do Governo, chegaram ainda ao conhecimento da FENPROF iniciativas avulsas da administração educativa, relatadas por escolas situadas um pouco por todo o país, tais como:

- Recusa da matrícula de alunos, no 1.º ano escolaridade, que completam 6 anos entre 1 de Setembro e 31 de Dezembro de 2010. Há casos relatados em diversos concelhos desde Barcelos a Portimão;

- Distribuição de alunos matriculados em determinada EB 2.3 por outras escolas do mesmo concelho, para reduzir turmas no conjunto das escolas;

- Existência de turmas que não se enquadram nas normas legais gerais estabelecidas que impõem um máximo de 24 alunos no 1.º Ciclo do ensino Básico e 28 nos 2.º e 3.º Ciclos e no ensino Secundário;

- Existência de turmas que não se enquadram nas normas legalmente estabelecidas sobre integração de alunos com necessidades educativas especiais, ou por terem mais de 20 alunos, ou por integrarem mais de 2 alunos com NEE.

A este propósito da constituição de turmas, a FENPROF, em Setembro, solicitará uma reunião à Inspecção Geral de Educação para que, na sua acção inspectiva, dê uma particular atenção a este problema. Da mesma forma, a FENPROF denunciará todos os casos que violem esta importante norma da Escola Inclusiva, pugnando para que seja respeitada.

Se estas medidas, por si só, são motivo de grande preocupação relativamente ao que acontecerá em 2010/2011, falta saber quais serão ainda acrescentadas pelo grupo de trabalho criado pelo Despacho 11.917/2010, de 14 de Julho, que, liderado pelo Ministério das Finanças, até final do corrente mês de Agosto, deverá propor novas e ainda mais restritivas medidas para o Orçamento da Educação de 2011. O mesmo deverá acontecer com as propostas a apresentar pela também recém-criada comissão para a optimização dos recursos educativos. Com tantas comissões criadas é de crer que, cada vez mais, a equipa do ME vá perdendo personalidade política, limitando a sua acção à mera aplicação das medidas que outros decidiram.

Grande preocupação

Perante este quadro, é com grande preocupação que a FENPROF encara o ano lectivo que se aproxima. Será um ano em que, adivinha-se, haverá mais docentes no desemprego, se degradará a qualidade do ensino, agravar-se-ão as condições em que se irá desenvolver o processo de ensino-aprendizagem. Preocupação que cresce face ao cenário de agravamento da crise em que se encontra o país e tem provocado o empobrecimento das famílias e, mais ainda, quando seria muito importante um esforço extraordinário de investimento uma vez que estamos em plena fase de alargamento da escolaridade obrigatória, medida que será bem sucedida se for possível (e, assim, não será) eliminar ou reduzir a níveis residuais as taxas de insucesso e abandono escolares que continuam a assolar a escola portuguesa.

A FENPROF estranha que tenha sido neste contexto que o Ministério da Educação decidiu lançar o debate sobre o fim das retenções. Ou não passou de uma manobra de diversão, tida como necessária num momento de imposição de cortes; ou, face à incapacidade de, com qualidade e exigência, superar os défices do sistema educativo, o ME pretende encontrar parceiros para enveredar pela via do facilitismo e do faz-de-conta assente em novas realidades estatísticas.

O Governo não contará com o apoio da FENPROF na prossecução dessa política e na imposição de tais medidas, por não ser esse o caminho que defende a Escola Pública, antes abre espaço para novos e continuados ataques à Escola Pública, incluindo a tentativa de alteração dos princípios constitucionais que a definem e suportam.

Coimbra, 6 de Agosto de 2010
O Secretariado Nacional